terça-feira, 6 de março de 2007




Respeito
© Anne M. Moor


Certo dia, ao entrar na sala de aula de um curso de formação de professores deparo-me, mais uma vez, com a falta de respeito próprio e pelo outro. Parei, fiquei a olhar, tentei entender ... e o que entendi era que eu, como professora tinha que fazer algo, afinal era um curso de formação.

Alunos universitários estão ainda em formação, muitos sem ter tido nenhuma experiência com o mundo profissional. Outros tantos já trabalham. Infelizmente, uma enorme porção da academia pensa que ensinar é fazer monólogos extremamente chatos para “transferir” o seu conhecimento brilhante aos alunos. Ora, ninguém é nem esponja e nem antena para ‘captar’ nada! Não é assim que se aprende. Aprender é construir (desculpem o chavão) conhecimento a partir da informação disponível, fazer relações, inferências, conexões com o conhecimento já adquirido, levantar hipóteses, enfim, refletir e criar. Não é como a maioria dos mestres pensam: "Eu ensinei, portanto tu aprendeste." Saber não é uma questão de acumular informações, mas, a habilidade de criar baseado nas conexões e gerenciamento de interações. Como diz a minha amiga Vera Menezes, o papel do professor é bagunçar com a zona de estabilidade e provocar o caos que resulta em uma zona de criatividade, onde pequenas mudanças podem ocorrer, criando efeitos significativos no processo de aprender. Mas além disso, o professor tem a obrigação e o dever de ensinar os seus alunos a raciocinar, a se respeitarem e a respeitar o outro.

A cena em pauta com a qual me defrontei foi meninas com calças (de ginástica) esturnicadamente apertadas, cinturas baixas – é moda eu sei e também era quando eu tinha 17 anos – mas quando digo ‘baixas’ hoje é mal acima da linha dos pentelhos (desculpem-me), barrigas e/ou barriguinhas dependuradas por cima do cós da calça ... Blusas coladas ao corpo, curtas, fazendo com que a área pelada fosse maior e as gorduras mais aparentes. Não satisfeitas, o decote mostra o colo magnificamente, cena linda de se ver em roupas da noite. Um lindo vestido com um decote até o umbigo é roupa para sair de noite. Ou no lugar das calças, mini-saias mínimas. Os meninos com calças caindo para a linha dos pentelhos também e com o rego da bunda de fora, barbudos, atirados nas cadeiras como se tivessem na praia...

Nem comecei a aula. Sentei-me, dei boa tarde e abri uma discussão sobre as roupas que um professor pode e deve usar para o seu recinto de trabalho. As caras de espanto, divertimento, deboche e quando se deram conta que eu não estava brincando, de reflexão (alguns, nem todos) foi cômico. Embora aqui não eram só as mulheres, elas são a maioria neste curso e volto ao tema iniciado pelo Ernesto lá no Assertiva – respeito por elas – e acrescento – respeito por elas a elas mesmas. Se as mulheres brasileiras são consideradas putas e fáceis, elas têm muita culpa nisso (não me joguem ovo podre) – não se respeitam e não se fazem respeitar, são as primeiras a falar das outras sem se olharem no espelho!!!

Não somos minoria não Ernesto – concordo – mas fomos criadas para sermos submissas ao homem, e a força da história e da sociedade é pesadíssima, aliás eu diria inacreditável. Eu sempre fui, como tu, politicamente incorreta, talvez pela minha criação circulando em três culturas diferentes ou pelos meus genes que me fizeram assim – consta meu pai que desde pequena I had a mind of my own – mas o certo é que tu tens razão quando dizes que nós mulheres precisamos nos unir, não para abanar sutiens na rua, mas para nos fazermos respeitar como pessoas. Somos pessoas antes de sermos mulheres, mães e esposas / companheiras, e, portanto, iguais aos homens, respeitando as devidas especificidades.

2 comentários:

Flavio Ferrari disse...

Anne ... submissão é um conceito absolutamente relativo.
Homem e mulher, ambos, são submissos, escravos do papel que julgam dever representar.
A cada mulher submissa corresponde um homem repressor. Ambos se sentem obrigados a isso. E eu não sei qual posição é pior.

Anne M. Moor disse...

Francamente? Tbm não... Tive que lutar um monte pra cavar meu espaço neste mundão de meu Deus e terminar de criar meus 4 filhos... E NÃO estou reclamando :-) Acho que isso me fez quem sou hoje.
"Ambos se sentem obrigados a isso." demonstra mais uma vez a força da sociedade que nos impinge maneiras de ser... O importante é viver, não existir simplesmente.