terça-feira, 17 de abril de 2007

Histórias da sala de aula e da vida 1


Hoje de tarde meu neto entrou no MSN para me catar e me pedir ajuda. Ele está cursando Mecatrônica na graduação, 2° ano. Sempre foi um menino que leu muito. Entretanto, a conversa que se desenrolou hoje de tarde mostra que ele não sabe ler de todo não.
O problema: Ele tinha uma aula de Ética dentro de uma hora e precisava levar um poema ou uma letra de música para essa aula, que tivesse relação com Ética, Estética ou Lógica.
Como ele sabe que eu estou quase sempre online, veio me buscar.
Fui direito nos poemas do Ernesto e mandei pra ele o ‘Balada de um Transistor Só’. Pra mim, esse poema genial cabe nos 3 temas.
A conversa que seguiu:
L diz:
eu li umas tres vezes o poema...
L diz:
e desculpe minha ignorancia nao o entendi completamente
Anne diz:
hahahahahaha
Anne diz:
o que tens de fazer com o poema?
L diz:
soh entregar colocando um comentario e falar onde ele se encaixa com um dos temas propostos
Anne diz:
Bom... isso eu nao vou fazer por ti... é contra a ética...
L diz:
ehehehe
L diz:
nao ta blz
L diz:
eu me viro
L diz:
mas valew
Lucas diz:
beijao
Anne diz:
Beijao

Esse lance traz a tona o grande X da questão do ensino de línguas – maternas e estrangeiras!!!!! Afinal, o que é ler?

4 comentários:

Ernesto Dias Jr. disse...

Para quem tenha ficado curioso(a), vai o link:
http://assertiva.blogspot.com/2006/04/soneto-ii.html

Sabe Anne, linguistica não é o meu forte. Mas assim como no post anterior você resumiu o que, como autodidata, sempre quis expressar e nunca consegui tão simplesmente, me aventuro a dar um pitaco aqui na tua seara -- e da Lú.

Depois de passada a fase "técnica", formal da leitura, a correta interpretação do código e aquisição do vocabulãorio -- qualquer que seja sua extensão -- ler para mim é interiorizar imagens. Apenas porquê sou acachapantemente visual. Por abstrata que seja a idéia, forma-se cá em mim uma imagem correlata. Isso limita, podes crer.
Mas acredito que o princípio vale para qualquer pessoa. Ler bem é transformar a carga semântica (oi, Lú...) no meio mais pessoal de digestão das idéias para então interiorizá-las confortavelmente.
Ética tem uma imagem para mim, um acorde para o Serginho, um sentimento para outras pessoas (invejo quem usa sentimentos como ferramenta de introjeção de idéias).
O bom leitor é aquele que melhor conhece o seu próprio mecanismo de leitura para todas as coisas.
Vencida essa barreira, a idéia aciona então a cognição que leva à crítica, à ação, ao enlevo, à raiva.

Bem, ninguém mandou perguntar... rs

Anne M. Moor disse...

É isso mesmo Ernesto. Agora a minha pergunta é outra: então porque é que algumas pessoas formam suas 'imagens' e outras não? Desculpem a reflexão de professora, mas sou formadora de professores de línguas e isso é algo que me preocupa. E me preocupa pq diferentemente de nós aqui neste espaço, a grande maioria não consegue fazer...
E auto didata Ernesto é todo aquele que aprende. Ninguém aprende por ninguém. O ato em si de aprender é processado por cada um. O nosso papel é a cutucação :-)

Amanda Magalhães Rodrigues Arthur disse...

Anne, não estou certa sobre o porque exato de alguns interpretarem e ligarem os pontos e outros não, mas acho que tem a ver com certo treino. Muito do que fazemos, por mais elaborado que seja, parece-me ser potencializado de certa forma por condicionamentos. Fazemos e entendemos, fazemos e entendemos um pouquinho mais, fazemos diferente e entendemtos a diferença etc etc etc. Um bom começo seria mais leitura, basimente. Mas, a geração MSN, está tão distante na linguagem que usa para reter e externar de com boa leitura que a coisa está ficando cada vez mais complexa...

Maria disse...

Anne na minha experiência com o ensino tive que ceder ao fato real de que os alunos hoje NÃO SABEM LER. Durante um seminário de minha disciplina de Economia para o Curso de Direito, percebi que o debate estava inadequado ao texto que estavamos trabalhando. Decidi fazer os alunos lerem o texto em voz alta, e constatei que a maioria lia sem pontuação e portanto, sem sentido. Tomei o texto e li. Haaaaaa! Foi a exclamação geral. Como falavamos hoje, se lê muito pouco nas escolas. Que se pode esperar dos jovens?