segunda-feira, 21 de maio de 2007

Histórias de uma caminhada...


Idas e vindas

Anos 60, 70... 2007... Tanta coisa já foi e veio nesse tempo... Tantas coisas boas e tantas outras ruins. Dessas últimas não quero lembrar. Quero recordar as boas, as que nos trazem um calorzinho gostoso no peito... As que nos fazem rir... As que fazem surgir um olhar longínquo cheio de nostalgia...

Viagens que fizemos para encurtar a distância entre o novo e o velho. Experiências nas estradas do Rio Grande do Sul e do Uruguai. Estou aqui sorrindo ao lembrar das estradas. Nem as poderíamos chamar de estradas se comparadas com as vias de hoje. Acho que é dessa época que nasceu meu gosto por aventuras, por trilhas de jipe, por coisas fora do comum.

Uma viagem a Montevidéu levava dezoito horas se tudo corresse bem de ônibus e trem. Eu tinha um tio que era CEO na ferrovia uruguaia, que era, por sua vez, uma empresa inglesa. Muito engraçado, contava inúmeras histórias que adorávamos. Uma era de que ao estar viajando num trem era preciso prestar atenção a algumas coisinhas. Dizia ele:
— Se o trem parar e o maquinista sair correndo pelo fundo do trem, levantem e saiam correndo atrás.

Uma vez, minha mãe e eu viajávamos para Montevidéu. Saímos de Pelotas no ônibus das cinco da manhã em direção a Jaguarão, naquela época quatro horas de viagem em estrada de terra. Pegamos o trem – el ferrocarril – que saía da ponte entre Jaguarão e Rio Branco ao meio dia. Viajamos algumas horas e o condutor passou pelos vagões gritando:
— Transbalde en Nicoperes! Transbalde en Nicoperes!

O trem parou e todo mundo desceu e saiu correndo para pegar lugar no outro trem. Mais parecia uma manada tentando acertar a porteira do curral! Tendo conseguido subir no trem, sentamos no último vagão. Era um trem belíssimo, daqueles antigos, ingleses com bancos de couro. A viagem continuou com aquele balanço característico dos trens da época. Dormi.

Deveríamos ter chegado a Montevidéu às vinte horas. Às vinte e uma e trinta, mais ou menos, após ter passado em uma estação SEM parar, o trem subitamente parou no meio do nada. Acordei. Olhamos uma para a outra, espiávamos pela janela sem enxergar nada, quando de repente eis que surge o maquinista correndo pelo trem e saiu para os trilhos desaparecendo na noite! Eu perguntei pra minha mãe:
— E agora, o que fazemos? Vamos sair correndo atrás dele?

Eu era criança e minha mãe me olhou e disse, caracteristicamente,:
— Não sejas ridícula!
Fiquei na minha, mas minha cabeça fantasiando! Dentro de uns dez minutos voltou o maquinista ainda correndo, com o aro de sinalização no braço.

Ao passar na estação, ele havia esquecido de pegar o aro de sinalização que lhe dizia que a via estava aberta para nós!! O maior azar dele não foi ter passado na estação esquecendo do aro, mas foi o fato de que carregava como passageiras no trem a cunhada e a sobrinha do CEO, que soube, por nós, exatamente o que havia acontecido.

Certamente, a história contada pelo maquinista não foi a mesma. O que será que aconteceu com o maquinista?

© Anne M. Moor - 2007

9 comentários:

Anne M. Moor disse...

Ooooops! Desculpem o comprimento!!!

Anônimo disse...

Fãs da blogesfera,

Como diria a Lú: foi o máaaaaaximo!!

Não foi um sonho, não foi magia, não foi virtual... Apenas pura realidade!!!

Encontrar Flávio, Ernesto e Walmir com um chopp gelado... Quem sabe agora vocês se animam para o nosso próximo encontro?

OBS: Anne precisava replicar a mensagem aqui, afinal, trata-se de um grande e importante evento!!

Beijos

Flavio Ferrari disse...

Se o maquinista tivesse contratado o Jorge como consultor de comunicação, pelo que ouvi dizer de dois amigos, ele teria sido promovido ...

Walmir Lima disse...

O maquinista deve ter sido mandado pra...outra estação!

Anne M. Moor disse...

É isso Jorge? E Walmir... tadinho do maquinista, afinal não aconteceu nada... :-)

Anônimo disse...

Obrigada, Anne, pelos dias de carinhosa hospitalidade em sua casa. Dias reveladores.

Na volta pra casa, no aeroporto de Porto Alegre, encontrei um livrinho de bolso com historias do Mario Quintana escritas por Juarez Fonseca: "Ora Bolas". Aconselho.

Ha uma grande distancia entre turista e viajante. Voce me fez lembrar disso. Quintana tambem sabia a diferenca. Reproduzo aqui uma das historias do citado livro:

"O Correio do Povo deixara de circular em junho de 1984 e ele [Quintana] ficara sem salario mensal, sem plano de saude, sem nada, morando de favor no Hotel Royal, do ex-craque Falcao.

"Em setembro, recebe um convite para ir a Sao Paulo. Teriam tudo pago, mas Elena [Quintana, sobrinha e fiel escudeira] pondera que estavam com muito pouco dinheiro, que a situaçao era dificil e que talvez fosse melhor nao viajar.

"Ele nao se da por vencido:

"- Tens dinheiro pro teu cigarro?

"- Tenho - diz ela.

"- E eu tenho pro meu, entao vamos.

"Esta é uma das tantas historias que desmentem aquelas de que Mario nao gostava de viajar. E abre a chance pra Elena comentar que, ao contrario do que outros tambem gostam de dizer, ele nao guardou uma crianca interior: 'Guardou foi o adolescente'."

Feliz aniversario, mocinha.

Anne M. Moor disse...

Raquel... Que maravilha! E foi muiiiiiiiiiiiito bom te hospedar no meu coração... Carol sabia o que estava fazendo qdo te embarcou pra cá... Passamos 3 dias trocando almas... Isso é muito bom... Continua por aqui. Também é muito bom e tbm é uma troca de almas.
Bjão
PS... Obrigada pelos cumprimentos mas principalmente pelo 'mocinha'. :-)

Luisa Fernanda disse...

Querida Anne, gracias por regalarme una historia tan fantástica. Son varios los motivos y voy a citar cada uno de ellos

1)Por regalar la inocencia de tu niñez
2)Por explicarme lo que es un viaje en tren en Sud América, porque adoro los trenes y aun infelizmente en estas tierras no he subido a uno.
3) Por la magnífica combinación cultural y atemporal, entre brasileños, uruguayos e ingleses. te mando muchos besos.

Anne M. Moor disse...

Luisa,
Muchíssimas gracias por tus palavras tan cariñosas! Quando empezé el blog me propuse a hacer reflexiones sobre mi vida. Escribir e acordarme de cosas del pasado me ayuda a entenderme. Mejor quando puedo dividir eso con amigos tan queridos.