sexta-feira, 14 de setembro de 2007


Educar significa ser um artesão da personalidade, um poeta da inteligência e um semeador de idéias (CURY, 2003)


Em 2003, eu tive o segundo contato com a comunidade surda de Pelotas. Encantei-me, inspirei-me, envolvi-me e foi um período em que aprendi o que é ser excluído. Criei um programa chamado "Integrando Alunos Surdos e com Deficiência Auditiva na Comunidade Universitária" e trabalhei dois anos com surdos. Consegui que a universidade contratasse 2 professores surdos e eu, junto com alunos e professores embarcamos na viagem de aprender a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, língua materna por direito dos surdos. Fascinante foi e permitiu-me ter uma comunicação riquíssima com os surdos, entendê-los melhor.

Embora a maior parte das experiências de ensino entre surdos e ouvintes ainda se dêem com o auxílio de intérpretes, o desenvolvimento das habilidades de comunicação em LIBRAS das pessoas ouvintes envolvidas em educação de surdos é primordial e esta é a única forma efetiva de construir uma pedagogia de sucesso entre professores ouvintes e alunos surdos. E foi assim que nós trabalhamos - SEM intérpretes.

É preciso entender que as dificuldades escritas do surdo não são causadas por preguiça ou falta de inteligência, mas porque seu canal lingüístico não é o oral, mas o visual. Eles têm habilidades perfeitas em linguagens visuais, nas quais os ouvintes apresentam dificuldades. Além disso, a língua portuguesa com a qual os surdos entram em contato na escola configura-se como uma segunda língua para eles, mas é tratada como língua materna que não é.

Trabalhar com 10 surdos adultos que já haviam completado o ensino médio ou estavam nos últimos anos foi uma delícia. Um enorme desafio, mas uma delícia. Foi possível repensar o tipo de material didático utilizado para o desenvolvimento da compreensão textual em surdos, uma vez que aprender português para os surdos é aprender a ler e escrever. Foi, também, possível entender melhor o conceito de ‘compreensão visual’.

Foi um enorme aprendizado sobre o significado de exclusão e ao mesmo tempo de inclusão. Estarrecedor! Triste! O meu convívio com Ivana e Rejane - 2 professoras surdas - que trabalharam comigo e começaram a me ensinar LIBRAS foi maravilhoso. Ouvir as histórias de suas caminhadas acadêmicas muitas vezes me fizeram chorar. Elas são verdadeiras heroínas!

6 comentários:

Luisa Fernanda disse...

Querida Anne,

Me fascinó tu relato, y nuevamente pido perdón por mi ignorancia. El otro día estaba pensando que los sordos estaban quizás mas comunicados de los que aparentamos ser normales, pues pensaba que su lenguaje con las manos era universal, como la música.

O sea que ellos gracias a tener el tema de no oir, aprendian con las manos a comunicarse con cualquiera que supiera el mismo código universal.

Es así mismo? O cambian los símbolos dependiendo del lenguaje verbal de donde viven las personas?

Besos

disse...

Bagagem de vida heim Anne...
Um beijão.

Anne M. Moor disse...

Luisa,
Las lenguas de sinales no son universales. Cada país tiene la suja. LIBRAS és la lengua brasilera de sinales y hay otras en Inglaterra, EUA, Portugal, Espanha... Aqui en el Brasil LIBRAS fué reconocida como la lengua oficial de los sordos en 2002, me parece. Es una lengua como las otras, con un sistema complejo y todas las propriedades de lengua.
Lú: Tem sido uma caminhada longa e rica...

Jorge Lemos disse...

Cada dia vc me surpreende! Quanta disposição. Mulher fabulosamente humana. Tô babando para conhecer
esta criatura "fora de estrada".
Parabens Anne.

Anne M. Moor disse...

Jorge querido! Obrigada!! Ainda vamos nos conhecer... Tbm estou babando pra te conhecer...

zuleica-poesia disse...

Você desenvolveu um trabalho magnífico. Parabéns. Haja talento!abraços-zuleica