quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Adoro a Martha Medeiros!!

Coisa de adolescente
© Martha Medeiros

Que insistência tola a nossa ao afirmar, cada vez que vivemos algo novo e excitante, que estamos em surto de adolescência. Isso sim é falta de maturidade. Uma amiga minha, separada, com três filhos para criar e que já não esperava mais nada da vida, me conta que está trocando e-mails com um empresário charmoso, uma surpresa que caiu do céu de uma hora pra outra. Ela me diz com todas as letras: "Estou me sentindo uma adolescente!" Numa cena de novela, outro dia, o mesmo texto: mulher recém-separada, mais de 50 anos, declarando-se apaixonada feito... feito o quê? Feito uma advogada, feito uma manicure, feito uma professora? Não, feito uma adolescente.

Qualquer pessoa que já se considere carta fora do baralho do amor, quando cruza com alguém que seguiu à risca os conselhos do "personal paquera" e recebe uma cantada, logo fica nostálgica e pensa: "ah, se fosse nos velhos tempos". Velhos tempos?? Mas que autoboicote! Certa está Bia Kuhn, psicanalista amiga minha, que diz que o inconsciente não usa calendário: os desejos de ontem seguem pulsando anarquicamente dentro da gente, com a mesma intensidade em qualquer época da vida.

Agimos como se apenas os adolescentes tivessem o direito de vibrar. Como se adrenalina correndo nas veias fosse um direito exclusivo deles. Como se homens e mulheres maduros não pudessem se divertir, não pudessem azarar sem compromisso, não pudessem se presentear com instantes de total curtição. Quem declarou que isso é um desajuste? Nós mesmos, quem mais.

Está na hora de reconhecermos que entusiasmo não é coisa de adolescente: é coisa de gente grande. Vou além: é coisa de gente velha, inclusive. Coisa de adolescente é depender de ajuda financeira dos pais, passar a madrugada bebendo cerveja nas calçadas, andar sempre em turma. E até isso não é propriedade privada deles. Mas entusiasmo, vibração, paixonite? Que insistência tola a nossa ao afirmar, cada vez que vivemos algo novo e excitante, que estamos em surto de adolescência. Isso sim é falta de maturidade. Os maduros de verdade sabem que estão sujeitos a vibrações aos 30, aos 40, aos 60 anos. Alguém está morto aí? Se estiver, não responda que tenho medo de fantasma.

Sei que é difícil mudar um hábito, mas vou tentar nunca mais dizer que um entusiasmo é "coisa de adolescente". É desrespeito com os adolescentes, porque dá a entender que tudo o que lhes acontece é frugal e sem consistência. E um desrespeito conosco: se a gente pensar que já viveu tudo o que tinha pra viver, que não há mais surpresas nem vertigens pela frente, que graça terá acordar amanhã de manhã?

14 comentários:

JOCENDIR CAMARGO disse...

Saber que nossa hora é essa é saber que o céu não é o limite...
Encarar que a vida começa todas as vezes que abrimos os olhos e não importa qual a idade é encarar que somos jovens eternamente... PARABÉNS, ASSUMIR NOSSA IDADE É ASSUMIR NOSSA EXPERIÊNCIA, E, NÃO EXISTE NADA MAIS BELO E HONESTO NO MUNDO...

FELICIDADES MIL...
TORNEI-ME SEU FÃ...

ana disse...

Lo entiendo perfectamente, yo, tambien divorciada, con dos hijos que criar, me he sentido asi en algunos momentos...adolescente total. Con el entusiasmo pegado al cuerpo como un caracol a la hoja.
Es una sensación de revivir, de florecer de nuevo, si. Rejuveneces.
Un abrazo Anne.
ana.

A.Tapadinhas disse...

...E eu adoro que tu adores a Martha Medeiros! Não consinto que alguém diga que já vivi a melhor parte da minha vida!
António

Anne M. Moor disse...

Jocendir: Obrigada pela visita.

Ana: Lo entendemos perfectamente, pero tu sós muy joven todavia... La vida continua para siempre... :D

António: E lá sabemos qual é a melhor parte de nossas vidas??? Ela não acabou ainda... E a minha está longe de acabar... rsrs, mas eu já disse essa sandice que ela aponta no texto dela... :D

Anônimo disse...

Aprendi contigo, Anne, a delicadeza de responder os comentários dos nossos visitantes no blog. Senti-me acolhida aqui com isso, muito obrigada! E realmente vou corrigir-me se por ventura vier a comparar-me com uma adolescente. Gostei do texto, entusiasmo-me com facilidade pelos mínimos detalhes da vida como uma mulher de quase 30, com um pouco de adolescente, mas com muito do sentir!

Anne M. Moor disse...

Ah Clarisse! Tens muito que viver ainda, mas o segredo é viver intensamente cada minuto, sempre.
Escrevemos por que no fundo, no fundo, queremos ser lidos. E responder aos comentários é dar atenção aos nossos leitores... E eu aprendi com o Flávio (Arguta) e o Ernesto (Assertiva). :-)

Walmir Lima disse...

Já passei por tantas que minha idade é contada em lustros (de 5 em 5 anos). Sou um eterno adolescente!
(... preciso lembrar de avisar meu geriatra...)

Estrelinha disse...

Anne...vc conhece a minha estória!!!

Jorge Lemos disse...

Estou vivo... Existe graça maior?
Cada momento nos reserva uma face diferente para escrevermos o tempo.

Anne M. Moor disse...

Walmir: Assim não vale... hahahaha

Estrelinha: As nossas...

Jorge: Estar vivo e vivendo intensamente é o grande barato!

vittorio disse...

Nas águas deste rio não existem constâncias ,
ora são calmas e mansas, ora são agitadas e bravias
Nas margens desta viagem, os sentimentos vividos permanecem
e por não terem idade, em nós os sentimentos nunca envelhece.


Que beleza de texto escolheste, para nos fazer pensar e sentir que a vida é um imenso rio aonde as águas se renovam e nada é constante.

vittorio disse...

Nas águas deste rio não existem constâncias ,
ora são calmas e mansas, ora são agitadas e bravias
Nas margens desta viagem, os sentimentos vividos permanecem
e por não terem idade, em nós os sentimentos nunca envelhecem.

Anne M. Moor disse...

E que a vida não pára, né Vittorio...

zuleica-poesia disse...

Anne- Adolescente? Estenda isso para depois dos 60 anos- 70,75,89... e mais.