Sempre fui curiosa e
rebelde. Curiosidade que me impulsionou a sempre procurar formas novas de
viver. Rebeldia que me incitou a buscar o diferente, a aproveitar as
oportunidades que a vida apresentava.
O mundo digital está entre a
curiosidade e a rebeldia. Instalou-se e está aqui para ficar, embora muitas
pessoas insistam em não aceitar esse inusitado fato. Poderiam me perguntar por
que ‘inusitado’ se esse universo existe há tanto tempo. É bom deixar claro que
eu me refiro à tecnologia em relações pessoais e não profissionais, nem
acadêmicas. As relações entre homens e mulheres, entre pais e filhos, entre
amigos, irmãos... Nos últimos anos o ser
humano tem se encontrado em uma teia enredada de solidão, carência e um
sentimento de estar perdido. O tradicional nas interações, no emergir de
empatias, no sentir simplesmente tem se perturbado com as mudanças sociais.
Tantas pessoas na solidão dolorida, na procura de companhias, no buscar de
aconchego... Nunca foi tão intensa a busca pelo ‘eu’ e pelo outro!
O uso do computador e a
descoberta da internet foram, para mim, uma festa. Gosto de viver, adoro gente,
tenho imenso prazer em conhecer pessoas novas, enfim, de me relacionar. A minha incursão neste mundo mágico foi aos
poucos. Comecei pelo acadêmico, mas logo a seguir o pessoal e social começou a
me atiçar. Os sites de relacionamentos me pareciam algo perigoso – medos
surgiram. Mas a curiosidade nata me fez explorar e abriu-se um mundo
surpreendentemente fascinante aos meus olhos. Cadastrei-me no primeiro, ainda
com uma mistura de medo e vergonha. Comecei a conhecer pessoas diferentes. Uma
realidade estrondosa apresentou-se – milhares de homens e mulheres de minha
idade solitários, procurando companhia, amizade, papo. Foi um início.
O mundo digital tem
desacomodado de várias maneiras a sociedade nas últimas décadas. As relações pessoais passaram a contar com
formas diferentes e não tradicionais de interação, empatia, encanto e, por que
não, de amor. Formas essas pouco aceitas por pessoas avessas a mudanças, a
coisas novas, a aventurarem-se no abismo da vida.
Conheci pessoas. Criei
empatias e sentimentos com pessoas sem vê-las, nem ouvir a voz (naquela época eu
não tinha câmera.). Surpreendi-me com o fato de poder criar empatias com alguém
sem ouvir a voz, sem ver, sem tocar... Namorei. Fui tachada de louca, pobre
coitada, entre outras coisas por pessoas que nem sequer sabem ligar o
computador e muito menos entendem as relações humanas virtuais nem presenciais.
Mas eu sabia o que sentia e passei a enxergar a vida que se desenrolou, a
partir de outra ótica.
Muitos amigos queridos
conheci e mantenho até hoje. Alguns ainda virtuais, outros transformados em
presenciais pelos encontros que aconteceram. A riqueza dessa rede de amigos
novos e/ou reencontrados é que não mais o meu círculo de amizades é restrito à
cidade em que moro, mas espalha-se pelo mundo. Tenho amigos no Brasil, na
América do Sul, nos Estados Unidos, na Europa e na Austrália. Amigos com quem
converso e interajo quase todos os dias. Encontrei-me novamente pela internet com
amigos da época do colégio e posteriormente em encontros agendados com a ajuda
da internet. Mágico e adorável. Sem a internet jamais teríamos encontrado
colegas de 57 anos atrás. Não só encontrei, mas passamos a interagir como se esses
anos não houvessem passado.
Conheci um grupo de amigos
através do meu blog e do deles. O mesmo país, mas estados e cidades diferentes.
Marcamos um encontro após um ano de interação pela escrita, pela poesia nos
blogs. Foi nesta época que comecei a escrever. O encontro aconteceu em São
Paulo por ser o ponto mais central do grupo. O que mais surpreendeu a todos foi
a familiaridade que havia entre o grupo. A sensação de conhecer as pessoas
desde sempre. O prazer de estarmos juntos.
Isso tudo começou pela escrita na
internet.
© Anne M. Moor
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