quarta-feira, 13 de junho de 2007

Indo pro brejo...


Era 1965, verão, dois dias após o ano novo. Voltávamos de Montevidéu de kombi, meu pai, minha mãe, minha irmã e o noivo, e eu. O local: a estrada do inferno entre Chui e Pelotas. Uma estrada de 260 kms. sem asfalto, de base de areia sem nenhuma marcação. Assim eram as estradas aqui no sul naquela época. Para quem gostava de aventuras, era um paraíso!

Ao chegarmos à fronteira, chovia a cântaros há uma semana. Fazer o quê? Meu pai saiu atrás de alguém que conhecesse a estrada para ir conosco, uma vez que a cada atoleiro tinha-se que entrar nas estâncias e pedir trator. Estou pra achar que minha loucura herdei dele... Saímos nós e o ônibus pra Pelotas. Ninguém mais teve coragem.

A estrada mais parecia uma sopa de feijão. Andávamos a 20 kms por hora em zig-zag através de um mar de lama de dar inveja a um bando de sapos. De cada lado da estrada, mais barro e muita água.

Havíamos almoçado num restaurante de beira de estrada naquele dia. Depois de algumas horas de literalmente deslizar no meio da lodeira, o almoço começou a se manifestar em mim e na minha irmã. Dor de barriga era apelido!

— Pára o carro, pai! Preciso descer, gritei eu de repente.
— Sinto muito, disse meu pai, não posso parar não, ou atolamos.

Imaginem vocês a cena! O carro andava a 10 kms por hora. Abri a porta e desci com barro pelos joelhos, vestindo a capa de chuva do meu pai e um chapéu ridículo. Chovia torrencialmente... Terminado o processo, tive que sair correndo, ou algo parecido para entrar no carro de novo, porque correr com barro pelos joelhos era algo impossível. Talvez fosse melhor dizer pulando feito sapo... Não demorou muito a minha irmã teve que fazer a mesma coisa e por vários kms nos intercalamos descendo e subindo da kombi em movimento!!!

Sobrevivemos! Embora com alguns quilos a menos! Levamos doze horas para fazer os 260 kms. Atolamos três vezes e tivemos que ser rebocados por tratores das fazendas nas redondezas a cada vez. Nossas viagens naquela época eram, no mínimo, pitorescas!

© Anne M. Moor - 2007

9 comentários:

Flavio Ferrari disse...

Então tá Kombinado
Quem comeu vai a pé
E o resto vai sentado ...

Walmir Lima disse...

Imagino o cenário...
Que grande lamaçal ficou!

Anne M. Moor disse...

Agora dá pra rir!!! Na época não... :-(

Amanda Magalhães Rodrigues Arthur disse...

Pitoresca? Dantesca é melhor, não?!

Anne M. Moor disse...

Depende como se enxerga o pitoresco Amanda... Haahahahahha... Mas garanto que nem imaginavas que essas estradas pudessem um dia ser assim... A gente acostuma a vê-las asfaltadas, etc e nem lembra de como eram as viagens antes...

Anônimo disse...

E agora pra matar a saudade, vai fazer rally com seu filho né.
Bjo
Lú.

Anne M. Moor disse...

É óbvio Lú... :-) A foto é de 2003 e desta vez pra me divertir mesmo!!!!!!!!!!!!!!!!

Anônimo disse...

Anne,

As aventuras nem sempre são boas quando passamos por elas, mas são deliciosas de serem lembradas!!

O rally agora ficou fácil!!

Beijos

Walmir Lima disse...

Também é gostoso fazer um rally pelas lembranças.